Esgotamento e Pandemia
Mais de dois anos atravessando uma pandemia e suas fortes consequências, sem contar o assombro de um estado econômico fragilizado. Os anos atuais e os que seguirão apontam para um norte enevoado, há um abismo social que se aprofunda, o período de isolamento agora pouco a pouco se desfaz e as pessoas retornam parcamente ao modo com que viviam anteriormente.
Voltar à luz do dia trouxe escancaradamente o abismo às vistas. A cidade torna-se cada vez mais cinza, os passantes na rua portam um ar carregado. A miséria, a fome e o luto não deixariam de trazer consequências psíquicas aos indivíduos que permaneceram - ao menos àqueles que não participam da pequena, porém, farta fatia dos milionários que desfilam com seus carros de luxo pela mesma cidade cinza - .
É importante dar destaque ao contraste social para que através de uma lupa, olhemos para outros contrastes que também marcam e marcaram esse período pandêmico: A possibilidade do morrer e a que se fez com isso.
O que quero dizer com isso? A imprevisibilidade da vida e a possibilidade de sucumbir ante ao vírus produziu medo, pânico, negação e ao mesmo tempo um impulso de viver expresso pela rápida construção de aparatos virtuais para continuidade da vida em comum, pontes para construir ou solidificar vínculos. Mas o impulso de permanecer vivente também trouxe um outro imperativo, o do trabalho. Este invadiu o espaço doméstico, se apropriou das horas do dia e tornou-se sinônimo de exaustão,.
Não é possível ignorar o atravessamento de uma lógica neoliberal no modo com que nos relacionamos com o trabalho, assim como com o papel da internet nessas novas relações de produção que aparecem na contemporaneidade, isso porque, quem paga as contas no final, é um corpo esgotado.
